Vilar de Andorinho detém uma posição geográfica estrategicamente privilegiada. Cercada por cinco das mais importantes freguesias do concelho de Vila Nova de Gaia – Oliveira do DouroAvintesPedrosoCanelas e Mafamude – confina com o centro da cidade, interligando-se e complementando-se com ele, quer a nível de serviços, quer a nível de outros sectores de atividade.

A abertura da Estrada Nacional 222, e mais recentemente do nó de ligação desta ao IP1, que atravessa a freguesia, veio melhorar significativamente as comunicações com as cidades de Gaia e Porto. A ligação direta à Avenida da República através da Estrada Nacional 222 e a ligação ao Porto pelo IP1 (Ponte do Freixo), colocaram Vilar de Andorinho numa posição privilegiada, que tem vindo a atrair cada vez mais gente.

Apesar de não ser uma freguesia muito grande em área (cerca de 16.350 Km2), a sua inclinação acentuada transforma-a numa espécie de miradouro concelhio, nomeadamente do cimo do monte da virgem, no ponto mais alto de Vila Nova Gaia, o que lhe confere uma posição

A origem etimológica de determinado local é um dos dados essenciais para descortinar da sua própria história. No caso da freguesia de Vilar de Andorinho, deparamo-nos logo com duas palavras distintas, e com géneses e explicações também diferentes.

O primeiro topónimo – “Vilar” – terá surgido em 1058, e, tal como muitos outros locais que receberam a mesma denominação, refere-se a uma pequena povoação. Já “Andorinho” é motivo de outras discussões e opiniões (tem-se entendido ser uma corrupção do antropónimo godo “Adonorigo”, nome de um patrono ou padroeiro da igreja de Vilar de Febros que viveu no século XII),mas deverá ter surgido sem nenhum motivo aparente, apenas para se distinguir da freguesia vizinha Vilar do Paraíso. Isto já no século XIV, uma vez que até aí, e sensivelmente desde o século XI, esta região era conhecida por “Vilar de Febros” (“Vilar de Feveros”).

Mas muitos outros topónimos aparecem na freguesia, e nem sequer a sua própria designação – Vilar de Andorinho – é dos mais antigos. Anteriores, são por exemplo, o topónimo de “Mariz”, derivado de “Amalarici”, provavelmente o mais antigo de todos, referente ao nome de um senhor godo destas terras, e que poderá remontar ao século V ou VI, ou os topónimos Serpente e Soeime (originalmente “Zoieima”), referenciados em documentos bastante antigos. O topónimo “Balteiro” terá raízes germânicas, enquanto que “Baiza” é de origem desconhecida. “São Lourenço” refere-se ao santo mártir, venerado um pouco por todo o mundo. Quanto aos restantes lugares, “Lijó” apresenta raízes medievais, sendo durante muito tempo conhecido por “Alijó”; “Menesas” deriva possivelmente de uma viúva de algum Meneses aqui radicado, “Giesta” deve reportar-se à abundância do respetivo arbusto; “Moinhos” é também facilmente identificável; “Castêlo” é relativo a um castro muito antigo que localizado no extremo de Lijó; e “Mata”, bem mais recente, deve-se aos muitos pinheiros existentes neste ponto de passagem para Avintes.

Quanto à história da freguesia de Vilar de Andorinho, e tal como acontece na maior parte dos casos, não de pode apontar em precisão nenhuma data inicial especifica. Os primeiros documentos reportam-se ao ano de 1072, mas é óbvio e lógico que muito antes disso já o local era ocupado e habitado. As mamoas (jazigos de tempos remotos, de cariz e religioso, onde se depositam os cadáveres, juntamente com alguns alimentos e peças em cerâmica) da Serpente e de Lijó atestam uma vivência neolítica. O topónimo “Castelo”, referente a um castro – o Castro do Guedes ou de Baiza – de origens muito antigas, também é um bom exemplo. No entanto, o melhor exemplo estará nas próprias características da freguesia. Resta precisar a época, mas não restarão dúvidas quanto à escolha humana por um local tão aprazível e tão privilegiado quanto o Monte da serpente (atual Monte da Virgem), desde os tempos mais remotos. Para além de ser o ponto mais alto de todo o Concelho (com vantagens óbvias, pelo menos em termos de defesa), possibilitaria um fácil contacto, por meio de sinais, com outros pontos cimeiros afastados. Acresce o facto de ser um local rodeado por férteis terrenos, na sua base, e banhado por abundantes fios de água.

Relativamente ao já referido monumento castrejo, alvo de escavações arqueológicas efetuadas em 1985, ele constitui também uma valiosa prova de presenças longínquas de povos nesta zona, que, segundo os estudos realizados, deverão rondar os séculos I AC e I DC. O Castro, que recebeu duas denominações possíveis – uma relacionada com o lugar onde foi descoberto (Castro de Baiza) e outra relativa à família a quem pertenceria (Castro do Guedes) – estaria disposto segundo um sistema defensivo composto por três cinturas de muralhas pétreas concêntricas, a mais interior atingido por vezes três metros de espessura, às quais se articulariam diversas habitações também circulares, organizadas num núcleo familiar em redor de um pátio central lajeado. Decorrente das pesquisas levadas a cabo, um outro pormenor curioso chama a atenção: tendo ficado provado que foi habitado durante 200 anos consecutivos, vem contrariar a tendência nómada da época em questão.

Com maior rigor histórico e precisão de datas encontram-se as primeiras alusões documentais à freguesia, que se reportarão ao ano de 1072, altura em que surge a primeira referência às origens paroquiais de Vilar de Andorinho. Estas aparecem ligadas à existência pré-nacional de um mosteiro de S. Salvador, que teria sido doado por intermédio do tal documento. Por aqui se constata a independência de Vilar de Andorinho em relação a Pedroso, e ligada, isso sim, à Sé Portucalense. Nova citação documental, agora de 1103, alude a uma doação feita à Sé de Coimbra por um tal de Gonçalo da sua respetiva parte do Mosteiro de Vilar, sucedendo-se noas anos seguintes provas similares, o que leva à conclusão de inúmeros herdeiros ligados ao mosteiro. Numa delas, feitas ao Bispo do Porto, D. Pedro Pitões, em 1146, aparece pela 1ª vez a denominação Vilar de Febros. Um facto determinante na história da freguesia, e que se encontra referenciado em muitos documentos de diferentes datas, é a disputa acesa entre a Sé do Porto e o Mosteiro de Pedroso pela posse deste padroado. Tal situação, levada até ao extremo, provocou o assassinato do religioso Andorinho, por parte de Gonçalo Barrico, um dos herdeiros da Igreja. E acaba por estar na génese da designação definitiva da freguesia, cujas gentes logo se sensibilizaram com o sucedido. A contenda viria, então, a ser resolvida em 1256, por intervenção do Bispo do Porto, D. Julião, que decidiu a favor do Mosteiro de Pedroso. Mas em 1496 muda novamente de mãos, agora por troca com a Igreja de S. João da Folhada, em Marco de Canaveses, realizada com o Mosteiro de Santa Clara do Porto.

E foi evoluindo a freguesia até aos dias de hoje, altura em que se mostra particularmente aberta ao progresso e ao desenvolvimento. Ainda predominantemente rural, começa no entanto, a assistir a uma multiplicação significativa de construções e zonas urbanizadas, com o consequente crescimento da sua população, que ultrapassa presentemente as 20.000 pessoas. Um desenvolvimento que se prevê ainda mais intenso durante os próximos tempos, dado existirem ainda muitos e extensos terrenos por ocupar, particularmente propícios ao alojamento de famílias que pretendem viver simultaneamente no campo e na cidade.

Percorrendo a freguesia de Vilar de Andorinho com o chamado olhar clínico e a sempre necessária preocupação histórico-cultural, deparamo-nos com muitos monumentos e templos, espalhados um pouco por toda a parte, que nos ajudam a perceber melhor a sua própria história. Tal como acontece em qualquer outra freguesia ou local, a Igreja Paroquial de Vilar de Andorinho ocupa uma posição de natural destaque, até pela sua localização, mesmo no centro da comunidade, junto ao atual edifício da Junta de Freguesia- E também tal como costuma suceder nos outros casos, foi igualmente alvo de vários melhoramentos ao longo dos tempos. O templo primitivo era do mais simples que se pode imaginar: quatro paredes e duas águas. A nova Igreja foi então mandada edificar num outro local, pelas freiras de Santa Clara, no século XVII. Mesmo assim sem grandes primores, segundo rezam as crónicas. Os acrescentos artísticos vieram mais tarde, nomeadamente no século XVIII, altura das grandes reformas na Igreja.

Apareceu a torre sineira, e em 1767 surgiram muitos mais melhoramentos: a Capela-Mor, que até então não existia, e um novo Altar-Mor ao estilo da época – rocaille – que, não sendo de proporções exageradas, é dos maiores e dos mais bonitos de todo o Concelho: quatro colunas cilíndricas revestidas de medalhões, e ornatos com platibandas assentes em duas mísulas suportadas por dois anjos; mais acima, dois serafins seguravam o lampadário (que agora se apresenta sobre um candelabro de ferro forjado); bem visível ainda um painel com a Ceia de Cristo, de qualidade inegável. Em natural realce no interior do edifício, surgem-nos aos olhos as bonitas imagens de Santa Clara, S. Bento, e dos Santos Reis, que deverão ser de época anterior. Estas resistiram quase milagrosamente incólumes pelo tempo fora, apresentando-.se ainda nas suas formas e pinturas originais. Mas não são as únicas imagens do templo. Também a da Senhora do Rosário merece uma referência especial, devido à finura de traços e à perfeição do trabalho. E ainda o Santo António, do século XVII, e de conceção triangular, a Senhora da Conceição, o S. Sebastião, o S. Caetano, o conjunto de Santa Ana e o S. João Baptista (ainda criança), este último localizado no baptistério. Para além do Altar-Mor, com talha e acabamentos mais simples, existem quatro altares: o Altar das Almas, o Altar dos Santos Reis (do lado Norte), o Altar de Nossa Senhora de Lurdes e o Altar de Nossa Senhora de Fátima (do lado Sul).

Espelho das crenças e da fé de um povo são ainda as capelas, que se desmultiplicam por todo o lado. Vilar de Andorinho não foge à regra, e conta com várias, umas mais antigas, outras mais recentes, umas públicas outras particulares. Principiando pela mais antiga de todas – a Capela de S. Lourenço – constatamos a relativa modéstia da sua conceção arquitetónica, devido a esse mesmo fator de antiguidade, destacando-se a sua galilé, e em cujo altar, sem estilo definido, figuram as imagens de S. Lourenço e de Santa Guadalupe.

A capela de Balteiro foi a segunda pública a ser construída. Inaugurada nos princípios da década de 1970, exterioriza umas linhas singelas, mas apresenta umas bem mais trabalhadas no seu interior. E a Capela da Serpente, que serve os lugares da Serpente, da Rechousa e4 do Alto das Torres, foi a terceira capela pública a surgir. Quanto às ditas capelas particulares, uma que merece natural realce é a da Quinta do Soeime, até pelo espaço onde se encontra integrada. Esta é uma Quinta com passado rico e preenchido, que começa provavelmente no século IX, altura em que seria pertença de um nobre mouro de nome Zolemia, que derivou para Soeima, e finalmente para Soeime. Ao longo dos tempos, foi mudando de dono, e foi também beneficiando de diversos melhoramentos que a enriquecem em beleza e qualidade. À moradia propriamente dita acresce um amplo terreiro com uma fonte em granito (de estilo barroco) e um nicho com a imagem de S. João Baptista, brotando a água de três bicas para um artístico tanque e ainda uma mata de elegância aristocrática, muitos campos de cultivo, pomares, roseiras e um belo jardim de buxo e cameleiras raras. A Quinta de Paço Vitorino também possui capela própria, que é considerada uma pequena jóia do barroco.

Assim como a Quinta da Madre de Deus, situada na Serpente. Esta última é detentora de um belo retábulo maneirista onde figura o conjunto da Santa Família. Todas estas capelas se encontram inseridas em Quintas de grande significado histórico e de grande beleza, que merecem ser visitadas. Mas encontram-se ainda outros locais dignos de registo em Vilar de Andorinho. A Quinta do Outeiro, por exemplo, existente pelo menos desde 1640, ou a Quinta da Mata. E as várias “Casas” da freguesia, a Casa Castro, a Casa Tavares, a Casa Dias e a Casa Pareira, entre outras. Não convém deixar de realçar alguns pequenos “monumentos” que aparecem aqui e ali, tais como a antiquíssima Fonte de Vilar (cuja primeira referência oficial é já de 1594) ou o Cruzeiro da Rua do Souto de S. Lourenço. Tudo isto e muito mais será possível vislumbrar em Vilar de Andorinho, uma freguesia atraente e hospitaleira, onde é possível desfrutar dos prazeres da ruralidade, misturados já nos dias de hoje com o essencial da vida urbana.